Sistema garante transparência
Aberto para a paisagem da praia de Boa Viagem, no Recife, o hall do JCPM Trade Center ganhou transparência com a fachada constituída por painéis de vidros curvos – instalados com sistema de peças diagonais e tirantes de aço inoxidável -, conjugados a colunas de vidro incolor.
Com mais de 70 anos de atuação no Nordeste do país, o grupo JCPM reúne grandes empresas da área de comunicação, além de investir em obras imobiliárias e shopping centers. Um de seus mais recentes empreendimentos é o edifício JCPM Trade Center , erguido na região urbana do Recife, com vista privilegiada para a praia de Boa Viagem e a bacia do rio Pina.
Concebido para ser um edifício de escritórios administrado pelos empreendedores, o JCPM Trade Center está localizado na conexão da orla com o eixo principal de acesso ao centro da cidade e distante seis quilômetros do aeroporto internacional. Fachadas do tipo pele de vidro possibilitam a vista panorâmica do litoral e destacam a edificação no entorno, ainda tomado por residências.
Construído em terreno de 6.445,96 metros quadrados, o conjunto é composto por uma torre de 19 andares e um edifício-garagem com cinco pisos. Com lajes medindo aproximadamente 800 metros quadrados, os pavimentos são flexíveis, moduláveis em até cinco unidades. Um grupo de oito elevadores, em amplos halls, faz a circulação vertical.
Ancoragens
As fachadas da torre têm o pano de vidro marcado horizontalmente, a cada três pavimentos, por frentes de laje revestidas com painéis de alumínio composto . “As duas linhas – uma opaca e outra transparente -, limite entre interior e exterior, sintetizam conceitos operacionais, compondo e qualificando os espaços”, explica o arquiteto Jerônimo da Cunha Lima.
Soluções construtivas aplicadas às fachadas permitem total visibilidade e atendem ao desenho levemente curvo da pele de vidro da torre. Os módulos préfabricados foram produzidos com perfis de alumínio, vidros e painéis de alumínio composto, nos andares previstos. Eles chegaram à obra prontos para fixação, com os pontos determinados, parafusos de ajuste e arranques.
Com consultoria do engenheiro Nelson Firmino, da Aluparts, a Avec Design desenvolveu o projeto e executou as fachadas da torre e do térreo. O bloco vertical apresenta panos de vidros curvos e planos suavemente refletivos; são laminados Stopsol verdes, de dez milímetros (6 + 4). No térreo, curvos e planos são temperados laminados Stopsol verdes, de 14 milímetros (8 + 6). Com raio de 5,15 metros, os vidros curvos foram aplicados em quadros de alumínio com travessas calandradas.
Segundo José Guilherme Aceto, diretor da Avec Design, a maior dificuldade na execução dos planos envidraçados foi o correto posicionamento e alinhamento das ancoragens, que permitem regulagens de até 50 milímetros sem reforços. O sistema de fachada foi ensaiado nas câmaras de testes do Instituto Tecnológico da Construção Civil (Itec), em São Paulo. “Apesar da localização em região classificada como 1, os testes seguiram parâmetros da região 4. A pressão de ventos era de 1,5 mil pascals. Na primeira verificação, os ensaios apontaram flecha de seis milímetros, sendo que a permitida era de 15 milímetros”, explica Firmino.
Tecnologia de fachadas
A fachada da torre foi construída com módulos que vencem a altura do pavimento, com largura definida pela arquitetura – no caso, as medidas eram, respectivamente, 3,70 metros e 1,25 metro. Esse conceito privilegia o uso do vidro como elemento principal , explorando e acoplando sua resistência mecânica às estruturas, com ampla visibilidade e transparência. O sistema tem como base o método de vidro encapsulado em silicone HTV (sigla correspondente a high temperature vulcanization) aplicado no perímetro da peça, que adquire uma borda flexível com dureza controlada.
A cor e o desenho são compatíveis com a perfeita interface com o quadro pré-fabricado. A tensão exercida na ligação entre o vidro e a estrutura, pela carga aplicada ao painel, é muito melhor absorvida e proporcionalmente suportada pela triplicada área de apoio e colagem. São utilizados apoios contínuos horizontais para suportar o peso próprio e fixação mecânica contínua nas verticais.
Para a fixação da caixilharia à estrutura da torre foram usadas ancoragens de alumínio de liga estrutural 6351 T6 e chumbadores químicos de aço inoxidável, instalados pelo lado interno da fachada. Os painéis de alumínio composto foram montados nos arranques do quadro do pavimento inferior, sendo simplesmente encaixados, sem fixação nas ancoragens. Em seus suportes, eles possuem parafusos de ajuste fixo de prumo e nível.
Para atender à plasticidade da pele de vidro, os perfis estruturais, que ficam ocultos, receberam camada anódica na cor preta. Esse tratamento garante perfeita adesão do selante estrutural e não emite brilho interno na frente de laje, quando observado externamente. Os perfis de acabamento – travessas, capas, rodapé e rodateto – receberam anodização com padrão inox.
Na obra do JCPM, as juntas entre vidros têm 14 milímetros, tanto nos trechos planos quanto nos curvos. Os quadros foram previamente rejuntados com silicone pastoso, que forma as duas primeiras vedações e permite todos os movimentos de dilatação de maneira elástica. Externamente, as juntas são acabadas por uma terceira vedação em perfis, de silicone HTV na cor verde. Esse foi o único trabalho executado pelo lado externo da fachada.
Colunas de vidro
Com pé-direito de 6,70 metros, o térreo ganhou fachada constituída por painéis de vidros curvos e planos, sustentados por peças diagonais (aranhas) e tirantes de aço inoxidável conjugados às colunas de vidro incolor , com altura igual à do pé-direito. Esse sistema foi especialmente desenvolvido para fixação em vigas de vidro. Além de sustentar as placas, as aranhas unem as três partes das colunas. No trecho curvo, os vidros possuem furos paralelos e fixação pontual por meio de coxins elásticos de silicone.
As colunas são compostas por três painéis de vidros refletivos temperados e laminados com quatro PVBs. Cada painel mede 150 milímetros de largura e 21 milímetros de espessura, com alturas de 2.400 milímetros (o primeiro) e 2.150 milímetros (os outros dois). Eles são emendados com uma liga elástica de silicone que suporta as cargas de vento de pressão e sucção na fachada. Esse movimento é contido pelos tirantes maciços de inox. As colunas de vidro são fixadas no piso e na viga superior em bases de aço inoxidável cortadas a laser, com regulagens oblongas. A ligação elástica entre o aço e o vidro é feita com uma manta de borracha de silicone HTV.
Segundo Cunha Lima, além da tecnologia utilizada no envoltório, outros itens tornam o JCPM um edifício contemporâneo , preparado para receber empresas que demandem de boa infraestrutura e baixo custo operacional. “Sabemos que uma das maiores despesas de prédios de escritórios está relacionada ao ar-condicionado. Aproveitamos o sistema de produção e geração de energia para ser o mais econômico possível”, diz ele. Também são atrativos a flexibilidade do uso dos espaços locáveis e a disponibilidade de instalações, assim como os acessos, conexões e controles das áreas de recepção e de reuniões.
Fonte: http://www.arcoweb.com.br/arquitetura/jeronimo-da-cunha-lima-e-viviane-mendonca-arquitetos-jcpm-trade-29-05-2007.html
Texto resumido a partir de reportagem
de Gilmara Gelinski
Publicada originalmente em FINESTRA
Edição 48 Março de 2007